Momentos da vida do Mestre florescem no ‘Jardim Zé Rodrigues’
Foi sob o olhar profundo, estampado no rosto pintado no Mural de oito metros, que família, amigos, Fundação Bienal de Arte e Município de Vila Nova de Cerveira se reuniram, este sábado, para prestar mais uma singela homenagem ao escultor José Rodrigues, falecido em setembro passado. A dicotomia arte/natureza que o Mestre tanto idolatrava foi o destaque de uma cerimónia emotiva.
Uma tarde solarenga de Outono, rodeado de amigos e família, contactando com a beleza natural e artística de Cerveira, ‘Vila das Artes’. Este era um dos cenários que o Mestre José Rodrigues privilegiava e que foi premeditadamente replicado para assinalar aquele que seria o seu 80º aniversário.
A cerimónia contou com três momentos evocativos do Homem e do Artista. Ao som da música da Academia Fernandes Fão foi desvendada uma frase do Mestre José Rodrigues colocada junto ao Mural que ocupa a parede do Cineteatro de Cerveira, convidando a uma reflexão aos muitos que por ali passam e ficam a admirar: "Não há pequenas coisas, as pequenas coisas são as grandes, uma luz exacta, um gesto preciso..."
Seguiu-se o descerrar da placa que identifica o espaço ajardinado, mesmo à entrada da vila e onde se encontra uma das suas emblemáticas esculturas, "O Esforço", como o "Jardim Mestre Zé Rodrigues – Escultor - 1936-2016". Para terminar, um grupo de amigos ofereceu duas árvores com um significado muito peculiar, simbolicamente plantadas pelos netos do escultor, e que evocam momentos da vida de José Rodrigues, nomeadamente um imbondeiro, reportando para a cidade de Luanda onde nasceu, e uma cerejeira, relembrando a ligação da sua família a Alfândega da Fé. O ‘Jardim Mestre Zé Rodrigues personifica e eterniza a sua ligação à arte, à natureza, a Cerveira e ao mundo!
Além da família e inúmeros amigos, foram também muitos os cerveirenses e turistas que se associaram a esta homenagem, bem como entidades públicas como o Diretor da Direção Regional de Cultura do Norte, Dr. António Ponte e o presidente da CIM Alto Minho, Engº José Maria Costa.
Durante a homenagem, o Presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Cerveira reafirmou que se Cerveira é hoje reconhecida nacional e internacionalmente como a ‘Vila das Artes’ muito se deve à entrega e trabalho do Mestre José Rodrigues que, “não só deixou um vasto e valioso legado artístico, como também a riqueza de valores presentes na sua forma de estar e ser ao longo da vida. Cerveira testemunhará para sempre a sua memória”. Fernando Nogueira aproveitou a presença do Diretor Geral da Cultura do Norte para anunciar que está a decorrer o processo de classificação da imponente escultura de José Rodrigues, ‘O Cervo’, situada no monte mais alto do concelho, como património imóvel de interesse público. “É mais uma merecida homenagem ao escultor José Rodrigues que só é possível com o apoio de muitas instituições e, acima de tudo, das pessoas que as dirigem, como o Dr. António Ponte aqui presente”, afirmou.
Por sua vez, o Diretor da Direção Geral da Cultura do Norte frisou que “a cultura não se faz só de festas, mas também de pessoas. José Rodrigues deixou-nos obras de arte, mas também nos transporta para um conceito muito importante de agregação a uma região". O Dr. António Ponte sublinhou que “José Rodrigues ainda pode fazer muito por nós com as suas ideias e trabalhos, enquanto fonte de inspiração e valorização”.
O Presidente da CIM Alto Minho, Eng.º José Maria Costa, explicou que de imediato se associou a esta homenagem em prol de um "homem de grande simplicidade, generosidade, disponibilidade e profundidade, caraterístico dos homens grandes".
A representar a família, a filha Ágata Rodrigues agradeceu todas as homenagens que têm sido realizadas em memória do seu pai: "Ele está mesmo ali a olhar para nós e a olhar para a forma como estamos a festejar a vida, como assim ele gostava, rodeado da família e de amigos. Estamos de coração cheio".
Considerado um dos fundadores da bienal, a mais antiga do país, que se realiza desde 1978, em Vila Nova de Cerveira, além do "Cervo" e do "Esforço", José Rodrigues é ainda o autor da peça as "Navegações", situada junto à margem do rio Minho e do espólio do Convento São Paio, na Serra da Gávea, que adquiriu, restaurou e onde viveu.