Cerveira recorda 'Olhares sobre a Emigração Cerveirense' nos séculos XIX e XX
Pelo vasto histórico de emigração registado no concelho, a Câmara Municipal de Vila Nova de Cerveira, através do Arquivo municipal, decidiu avançar com uma iniciativa que suscitasse uma reflexão sobre a importância e impacto desse fenómeno na comunidade cerveirense, relembrando os movimentos migratórios portugueses, particularmente a emigração para o Brasil no século XIX e primeiras décadas do século XX, e para os países europeus, nomeadamente para a França, na segunda metade do século XX.
No dia 7 de maio, às 15h30, a Biblioteca Municipal acolhe a conferência “Olhares sobre a Emigração Cerveirense” nos séculos XIX e XX, tendo como orador o Prof. Doutor Henrique Rodrigues e cuja participação vai incidir nas mobilidades e escritas da emigração oitocentista “Minha esposa do meu coração”, e ainda a presença de um grupo de quatro jovens estudantes da Escola Secundária de Vila Nova de Cerveira - Ema Lameira, João Oliveira, Sónia Fariñas e Tiago Cabodeira – que, sob orientação da Profª Emília Lagido, vão apresentar o tema «Ei-los que partem» - do Brasil à Europa, visando a emigração comparativa dos cerveirenses entre os finais do século XIX e os anos 60 do século XX.
Após o encerramento desta conferência, a Câmara Municipal vai proceder à inauguração de uma exposição temática, patente no Arquivo Municipal até ao dia 28 de setembro, e que pode ser visitada de forma livre ou mediante a marcação de visitas guiadas, no período normal de funcionamento daquele equipamento público.
“Olhares sobre a Emigração Cerveirense” nos séculos XIX e XX apresenta os dois fenómenos emigratórios para o Brasil e para a França, através de alguns documentos da época, como passaportes individuais e coletivos, requerimentos, bilhetes de vapor e processos de emigração de vários cerveirenses; de registos fotográficos de emigrantes e das suas famílias; entre outro material que recordam as memórias dos emigrantes, como por exemplo máquinas fotográficas, malas de viagem, entre outros. Há ainda algumas histórias de cerveirenses que, graças à fortuna alcançada com a emigração, não esqueceram as origens e tornaram-se beneméritos ao dotar as suas freguesias com melhoramento de grande vulto, de distribuir quantias monetárias e agasalhos pelos mais pobres, e mesmo de apoiar as crianças na aprendizagem escolar.
Entre alguns dos dados investigados e expostos pelo Arquivo Municipal, sabe-se por exemplo que, em ambos os períodos, as freguesias do concelho com o maior número de emigrantes, sobretudo de homens solteiros, foram Vila Nova de Cerveira, Sopo e Covas, maioritariamente lavradores e pedreiros. O destino é que foi diferente, entre 1837 e 1900 foi o Brasil, e já entre 1953 e 1977, a França foi o destino de emigração eleição pelos portugueses.
Com o apoio do Município de Fafe e do Museu das Migrações, esta exposição é complementada com um conjunto de fotografias da autoria do reconhecido Gérald Bloncourt, o fotógrafo que imortalizou a emigração portuguesa em França, nos anos 60 e 70, tendo ficado célebre por um trabalho publicado no Journal Le Monde, de 25 de Abril de 1964, intitulado “Quase 100 mil trabalhadores portugueses instalaram-se nas ‘favelas’ de Paris”.
Breve enquadramento dos dois fenómenos emigratórios expostos:
A emigração se apresenta como um dos comportamentos mais marcantes da sociedade portuguesa, especialmente a partir da segunda metade do século XVIII, com o «rush mineiro» no Brasil. Mas foi no século XIX que a emigração para o território americano registou um volume quantitativo mais expressivo. Ao longo de um século, o Brasil materializou o sonho de Eldorado, fascinando centenas de milhares de portugueses, na maioria homens, quase sempre jovens e alguns ainda crianças, oriundos sobretudo do Entre Douro e Minho.
As dificuldades nos transportes transoceânicos resultantes da 1ª Guerra Mundial, o impacto da Grande Depressão em 1929 e o eclodir da 2ª Guerra Mundial, acrescidas da imposição de entraves à entrada de novos emigrantes, quebraram a corrente migratória para o ‘Novo Mundo’, em detrimento da emigração intraeuropeia, a partir do decénio de 1950-1960. Para muitos portugueses, a França foi o destino migratório por excelência, resultante do processo de reconstrução gaulês do pós-guerra que, em parte, seria suportado por um enorme contingente de mão de obra portuguesa pouco qualificada, que encontraria nos setores da construção civil e de obras públicas da região de Paris o seu principal sustento.